O que é isto?

O que é isto,

que arranca-me a Verdade,

que me deixa completamente nu,

e me manipula com outra realidade?

 

O que é isto,

que me distancia dos meus,

que me apresenta à solidão,

e que afasta-me de Deus?

 

O Que é isto,

que insiste feito alguém teimoso,

que me abdica de qualquer religião

mas que me deixa mais religioso?

 

O que é isto,

que me faz seguir o que não sei,

que não é história nem ciência,

tampouco uma lei?

 

O que é isto,

que me deixa surdo-mudo,

que me arranca todos os sentidos,

que me faz ficar cego de tudo?

 

O que é isto,

cujo melhor caminho é via filosofia,

embora esta não chegue nem um pouco

aos pés da Real Sabedoria?

 

Isto é o quê?

É o quê, isto?

O que é isto?

 

 

Preto

Jogaram-me inúmeras pedras,

mesmo providos de erros

Arrancaram-me minhas ascendências,

fizeram dos meus dias enterros

Sequer me deram condolências

 

Trataram-me como um sem-alma, nojento

Misturaram-me com os animais,

por causa de um acidente em meu pigmento

Herança de meus povos ancestrais

 

Vejam o que fez um mesquinho pensamento

dotado de seu próprio ídio

Era sem nenhum pudor e lamento

que cometia seu genocídio

 

Muitas eram as tormentas

Muitos eram os gritos de “parem com isto!”

Mas o mesquinho pensamento insistia,

dizendo que fazia em nome de Cristo

 

As culturas que, por ora escravizadas,

Céu e Inferno não cultuavam

Mas recebiam as incicatrizantes chicotadas

em nome do Soberano que aqui pregavam

 

Não tinham escapatória,

eram insultos a todo lado

Cuja cor, pois, que em mim manifestava

Era símbolo de pecado

 

Vejam o imbecil que é

o homem, aqui, minha gente!

Diante das inúmeras atrocidades,

considera-se um ser inteligente