Sujeição Compulsiva

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De olhar fixo,

pensamento distante,

o sujeito observa

À sua frente, ele, nada ver

 

Com um semblante sério,

pensativo, triste…,

deixa-se ser manipulado pelas opiniões alheias

que, através de suas particularidades,

dão a esse indivíduo existência

E ele a aceita

 

Ele a aceita?

Embora pareça não querer,

ele aceita, sim

Dedica essa existência, exclusivamente,

às estereotipações que lhe são impostas

Apesar de ele não querer,

ele já é Ele

Não existe o Eu

 

E, ao tentar fugir dessa simplória qualificação,

tão logo, ele tem de voltar ao seu rótulo,

pois ele respira,

ele respira,

respira

 

Apoiando toda a sua queixosa mágoa

em sua acolhedora e materna mão,

ele vê que seu único refúgio,

incorruptível antipredicatividade,

encontra-se justamente em seu corpo

Daí, ensimesmado, ele recolhe-se em si mesmo

 

Mas ele, infelizmente, respira

Tem, por isso, de voltar

E, encontrando-se já dentro do mundo de fora,

com a coluna curvada,

submisso e disciplinado,

ele sai de seu recolhimento e faz sua apresentação

Após esta, ainda em sua sujeição,

ele percebe que, o pior veneno que há,

são os aplausos

 

 

Solidão

Através dessa arguta entinta,

cercado por tanta gente,

eu, possuído pela solidão,

vejo-me só

 

E este pensamento solitário,

alfinetado por imódicas desilusões,

insiste em me colocar no lugar do outro

Sozinho, fico a pensar,

tendo como base as pessoas

 

Porque consigo conceber a experiência alheia, a solidão é possível