Transgressão

Eu quero ultrapassar o ápice

desse simplório prazer

Que me limita a não ser o que sou

e me coloca em posição humana

 

E meu enorme desejo

é transcender esse final desejo chamado clímax

A cuja efemeridade vem em forma de esmola

ao pobre sujeito que o chamam de eu

 

Quero a loucura de um gozo eterno

capaz de me abstrair desse limite

Que consiste em me prender

nessa acidental capa subjetiva

mascarada de míseros adjetivos

 

Quero preferir deixar de querer

meros quereres infundantes

E ainda à angústia em meus onze por cento

já ter transgredido justamente aquela coisa

que mui apraz os razoáveis mortais

De codinome “Existência”

Sujeição Compulsiva

sujeicap-foto

De olhar fixo,

pensamento distante,

o sujeito observa

À sua frente, ele, nada ver

 

Com um semblante sério,

pensativo, triste…,

deixa-se ser manipulado pelas opiniões alheias

que, através de suas particularidades,

dão a esse indivíduo existência

E ele a aceita

 

Ele a aceita?

Embora pareça não querer,

ele aceita, sim

Dedica essa existência, exclusivamente,

às estereotipações que lhe são impostas

Apesar de ele não querer,

ele já é Ele

Não existe o Eu

 

E, ao tentar fugir dessa simplória qualificação,

tão logo, ele tem de voltar ao seu rótulo,

pois ele respira,

ele respira,

respira

 

Apoiando toda a sua queixosa mágoa

em sua acolhedora e materna mão,

ele vê que seu único refúgio,

incorruptível antipredicatividade,

encontra-se justamente em seu corpo

Daí, ensimesmado, ele recolhe-se em si mesmo

 

Mas ele, infelizmente, respira

Tem, por isso, de voltar

E, encontrando-se já dentro do mundo de fora,

com a coluna curvada,

submisso e disciplinado,

ele sai de seu recolhimento e faz sua apresentação

Após esta, ainda em sua sujeição,

ele percebe que, o pior veneno que há,

são os aplausos