Devaneio

Quando não

sinto nada

Será que realmente

nada sinto?

Ou será um

desconhecido sentimento

Invadindo o meu recinto?

 

Como posso

nada sentir,

se sinto eu que

nada estou sentindo?

Como que,

em sentimento algum,

posso sentir eu que,

em meio ao nada,

estou fingindo?

 

Se nada sinto,

ao sentir que

não sinto nada,

não é que eu

nada sinta,

mas sim uma sensação

para mim inusitada

 

O Nada

nada contra

as correntezas

de meu sentimento,

derrubando, assim,

as barreiras existentes

em meu pensamento

Transcendência

Penso em me desgarrar de mim,

partir ao abstrato

Mas meu corpo não está a fim,

e tudo fica muito chato

 

E no desejo de minha carne,

minh’alma entra em conflito

com o meu corpo desobediente

E da minha essência eis um grito

 

Um brado de misericórdia

ao meu corpo ter de mim

Pois se ele continuar,

o mesmo terá fim

 

Mas o corpo não pensa,

sentimento ele não tem, não

E o motivo de tudo o que ele faz,

é o de estar exercendo somente a sua função

 

Não quero ir por agora

ao encontro dos transcendentes mortais

Porém sinto que estou perecendo,

devido aos meus insaciáveis desejos carnais

 

Quando eu for,

e se um dia eu voltar,

ausente de qualquer matéria quero ficar

Quero que o meu ser seja o meu próprio pensar

Sendo assim,

penso que nada irá me tocar

 

Imagino assim não me corromper,

mas sabe-se lá

o que em minha companhia eu irei ter,

ou se continuarão as perenes divergências de meu ser

Na verdade,

vejo que, o que realmente não quero,

é morrer

 

Se ao menos eu tivesse a certeza

de que, mesmo estando morto,

eu pudesse pelo menos sonhar,

quiçá meu Ser se contentaria,

e com a sua natureza

Ele certamente iria se conformar

 

Eu iria sonhar sendo poesia,

a Liberdade seria a melodia

que,

galopando na inteira harmonia,

aos nobres ouvidos eu iria chegar