Transcendência

Penso em me desgarrar de mim,

partir ao abstrato

Mas meu corpo não está a fim,

e tudo fica muito chato

 

E no desejo de minha carne,

minh’alma entra em conflito

com o meu corpo desobediente

E da minha essência eis um grito

 

Um brado de misericórdia

ao meu corpo ter de mim

Pois se ele continuar,

o mesmo terá fim

 

Mas o corpo não pensa,

sentimento ele não tem, não

E o motivo de tudo o que ele faz,

é o de estar exercendo somente a sua função

 

Não quero ir por agora

ao encontro dos transcendentes mortais

Porém sinto que estou perecendo,

devido aos meus insaciáveis desejos carnais

 

Quando eu for,

e se um dia eu voltar,

ausente de qualquer matéria quero ficar

Quero que o meu ser seja o meu próprio pensar

Sendo assim,

penso que nada irá me tocar

 

Imagino assim não me corromper,

mas sabe-se lá

o que em minha companhia eu irei ter,

ou se continuarão as perenes divergências de meu ser

Na verdade,

vejo que, o que realmente não quero,

é morrer

 

Se ao menos eu tivesse a certeza

de que, mesmo estando morto,

eu pudesse pelo menos sonhar,

quiçá meu Ser se contentaria,

e com a sua natureza

Ele certamente iria se conformar

 

Eu iria sonhar sendo poesia,

a Liberdade seria a melodia

que,

galopando na inteira harmonia,

aos nobres ouvidos eu iria chegar