A ti

Bailavam junto aos teus os meus passos

Nossos dedos entrelaçados se tornavam um,

um anseio harmônico cadenciado pelo compasso

de uma onomatopeia que fazia tum-tum

 

Batia, assim, não o meu coração,

mas um desejo em obsecrar para que tu acariciasses teus suaves lábios aos meus

Destes saíam insólitas palavras,

cujas expressões eram reflexos dos procedimentos teus

 

Teu olhar fitava o meu

que, tímido, singelo, desviava do teu

E, em meio às jogadas de princesa e plebeu,

experimentei o delicioso e inesquecível beijo teu…

 

Deus meu!

 

Senti a impressão em estar diante da mais bela obra de arte,

à qual só conseguimos proporcionar a contemplação,

devido à subjetividade do Eu

Não havendo como compartilhar a outrem, em nenhuma forma de expressão

 

Quando dei por mim eu estava, em teus braços, contemplando as estrelas

E, pela primeira vez, vi o brilho destas se ofuscar

Pois, na verdade, percebi

que seu brilho era reflexo do teu precioso e reluzente olhar

 

Entretanto, porém,

fechar os olhos era também

um dos melhores momentos

E eu o fazia sem sofrimentos,

e eu o fazia sem hesitar

Porque, a cada instante de olhos fechados, eu via que tornávamos um,

eu via que tu estavas a me beijar

 

 

 

 

Indelével

Vou me contentar

com minha poesia,

pois vejo que

nada tenho a fazer

Devido ao modo com o qual

a sociedade vive hoje em dia

Às vezes,

dá vontade de perecer

 

Em meio às forjadas verdades,

a angústia me apavora

Desse mundo,

cujo domínio é baseado em as falsidades,

sinto vontade de ir embora

 

Mas aonde eu irei?

Ainda não sei

Pois já recorri à Ave Maria,

passei pelo Protestantismo,

e hoje estou na suposta

Filosofia

E estou vendo que

esta

é uma baixaria

 

Ao menos, das piores,

ela é a mentira melhor

Mas mesmo assim,

em meio à solidão

que a mesma me causa,

claro,

eu me sinto só

 

Só…

Pois percebo

que a Filosofia já está corrompida,

aderindo ao cotidiano,

cuja verdade é desmedida,

resumindo-se em geral fingimento

Em que a maioria,

mesmo sabendo

que está em tormento,

confessa contemplar o ápice

da felicidade

 

E é esta maioria quem

me ignora,

acusando-me

de louco

E, com isso,

eu me deleto

 

Resta pouco, resta pouco…

 

Pouco tempo

para eu me abstrair,

por este mundo já não caber mais em mim

Procurarei outro,

em sendo assim

 

Outro, o quê?

 

É…

É melhor sair da abstração,

voltar à perfeita ilusão,

e viver, então,

fingindo que está tudo bem