Copiosa coisa pensante

Eu sou puta,

e não prostituta

Mas cobro

E cobro barato:

somente o necessário

para ter o meu feijão ao prato

 

Eu não tenho fama,

tampouco grana

Pois não corro atrás de bola,

preferi ir à escola

Envergonho-me de, em todo tempo, ser agraciado

não quero, pois, cair no vício de pedir esmola

 

Semelhante a um casal, em sua intimidade,

sou uma tremenda puta em meu trabalho

O contrário tão somente,

é que faço tudo,

e nada valho

 

Puta…,

putativo cidadão eu sou,

suposto vivente entre os nobres senhores

Valho somente enquanto ensimesmado

fora isso,

sou privado de quaisquer valores

 

Rotularam-me de meretriz,

e isto é um grande e quase irreversível mal

pois, sendo assim,

eu certamente nunca ascenderei

Sobreviverei eu sempre na horizontal

 

Quão patológico é este tal de Capitalismo,

cujo sufixo mui me contaminara,

feito certa espécie danosa de vírus

ou qualquer outra mortal doença rara

Cão vadio

Quisera eu,

ao menos ter o privilégio

em “comer do pão que o Diabo amassou”

pois, quem dele provou,

eu tenho plena certeza

de que a sua fome matou

 

Quisera eu,

ao menos ter “bosta no cu para cagar”

pois, quem a tem,

é muito certo que há pouco

tivera do que se alimentar

 

Quisera eu,

ao menos ter sido um dia

chamado de “Tássia”

“Tá se achando” pois, hoje em dia,

é considerado profissão,

praticada pela maioria dessa grande máfia

 

Quisera eu,

ter o privilégio em alimentar-me bem,

como o de comer um cobiçado ovo frito

E, depois dessa deliciosa refeição,

deitar-me para uma repousada digestão

e arrotar, não caviar,

mas o próprio bendito – ovo frito

 

Mas eu fiquei só na quimera

deste maldito “quisera”

de que um dia eu pudesse viver uma primavera,

cujas flores seriam a felicidade brotando de mim

 

Só que a dor perene em meu peito

que,de tão latente,

não me deixa dormir direito

e sempre me obriga

a chegar ao real conceito

de que o que eu vivo mesmo

não é passado nem futuro,

e sim um presente mais que perfeito